Justiça decreta prisão de médico responsável por hidrolipo que levou à morte paciente de 31 anos
28/01/2025
Paloma Lopes Alves teve parada cardiorrespiratória durante procedimento em clínica na Zona Leste de SP; clínica foi autuada e interditada. Paloma Lopes Alves morreu após procedimento estético em SP
Arquivo Pessoal
A Justiça decretou a prisão preventiva do médico Josias Caetano dos Santos pela morte da paciente Paloma Lopes Alves, de 31 anos, após passar mal durante uma hidrolipo em uma clínica na Avenida Conselheiro Carrão, Zona Leste de São Paulo. Outras quatro pessoas que faziam parte da equipe também tiveram a prisão decretada.
Paloma teve uma parada cardiorrespiratória durante o procedimento. Ela foi socorrida pelo Samu e encaminhada ao Hospital Municipal do Tatuapé, mas chegou sem vida. A clínica foi autuada e totalmente interditada pela Coordenadoria de Vigilância em Saúde (Covisa), da Prefeitura de São Paulo (leia mais abaixo).
Conforme a Secretaria da Segurança Pública (SSP), as investigações prosseguem pelo 31º Distrito Policial (Vila Carrão). Até a última atualização desta reportagem, Josias não havia sido detido.
Ainda segundo a SSP, a proprietária da clínica em que a cirurgia foi relizada está presa. Ela foi capturada por policiais militares em 17 de janeiro em Guarulhos.
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A defesa da família de Paloma Lopes Alves encaminhou nota à TV Globo afirmando que o decreto de prisão preventiva dos responsáveis pelo procedimento estético "é um avanço significativo no caminho da responsabilização penal".
"Os elementos colhidos até o momento e a denúncia oferecida pelo Ministério Público indicam indícios robustos da prática de crimes graves, entre eles homicídio consumado, cuja elucidação adequada se dará por meio do devido processo legal, a fim de alcançarmos com exatidão, a responsabilidade de cada denunciado", afirmou o advogado Thiago Comun.
"Ressaltamos que, além do mascavado procedimento estético, outros fatores, como a ausência de licenciamento regular da clínica e a inadequação técnica do ambiente, configuram graves violações às normas legais e sanitárias que regem o exercício da medicina."
A TV Globo entrou em contato com a defesa do médico Josias, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.
Morte
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Segundo o marido, Everton Silveira, Paloma deu entrada no período da manhã na clínica de estética Maná Day. O procedimento seria feito na região das costas e do abdome, e a paciente tinha previsão de alta no fim da tarde. Porém, ela passou mal e teve uma parada cardíaca.
"A gente foi fazer o procedimento, e eu estava lá. Fizeram uma negligência enorme. Demoraram muito para chamar o Samu. A hora que eu vi que o Samu estava lá, eu saí correndo. Eles não me informaram o que estava acontecendo. Uma situação muito triste, delicada. Nossa, fora do comum. No hospital, tentaram reanimar, mas ela veio a óbito", afirmou ele.
Paloma Lopes Alves morreu após procedimento estético em SP
Arquivo Pessoal
Ainda conforme Everton, a esposa conheceu o médico pessoalmente apenas no dia da cirurgia e pagou R$ 10 mil pelo procedimento.
"Paloma contratou o procedimento através das redes sociais, e o pagamento da consulta foi realizado por transferências bancárias a uma empresa em nome do médico no valor de R$ 10 mil."
"Eu quero justiça pela Paloma. O médico fechou a clínica, sumiu e não falou nada. A justiça precisa ser feita. Eu levei minha esposa para fazer a realização do sonho e agora temos que enterrá-la. Estou sem acreditar."
A clínica estética foi autuada e interditada pela Coordenadoria de Vigilância em Saúde (Covisa), da Prefeitura de São Paulo. Segundo o órgão, a Maná Day exercia atividade irregular, já que não possuía a licença sanitária necessária para realizar procedimentos invasivos, como lipoaspirações.
O que diz o médico
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Em entrevista à TV Globo, o médico Josias Caetano dos Santos disse que a paciente teve falta de ar e ficou inconsciente quando já estava na sala de recuperação pós-operatória e piorou muito rapidamente.
"A paciente piorou muito a angústia respiratória e ficou inconsciente, mas, assim, foi coisa de segundos. A gente começou a fazer a massagem cardíaca. A gente começou a ventilar com aquela máscara de O2. Quando você tem um sofrimento por falta de oxigênio, é esperado que, com essas manobras, isso já recupere rapidamente. Não foi o que aconteceu".
O advogado de defesa dele, Lairon Joe, disse que todos os esclarecimentos devidos serão prestados.
Condenação anterior
O médico Josias Caetano dos Santos já foi condenado a indenizar por danos estéticos e morais uma paciente que teve o seio necrosado em 2022.
Segundo levantamento da TV Globo, o médico já foi processado 21 vezes por danos morais em erros médicos.
Em fevereiro de 2019, a paciente realizou uma mamoplastia redutora — procedimento cirúrgico que reduz o tamanho e o volume das mamas — no Hospital São Rafael, no Paraíso, no Centro de São Paulo.
Quatro dias após a cirurgia, a mulher percebeu que a aréola esquerda do seio estava com necrose. Para remover o tecido morto, ela foi submetida em três vezes a um procedimento conhecido como "o debridamento cirúrgico".
Contudo, a paciente alega que a revisão cirúrgica não teve o resultado esperado e que "perdeu o mamilo esquerdo".
Na sentença condenatória, o juiz Guilherme Silveira Teixeira da 23ª Vara Cível declarou que há dúvidas em relação às condições sanitárias do ambiente, que foram realizados os procedimentos cirúrgicos.
A sentença também aponta que, ao longo do processo, não foram identificados "documentos que comprovem liberação para realização de tais procedimentos".
O magistrado ainda reitera que a paciente era "saudável e inexistiam condições pessoais a elevarem o risco de complicação cirúrgica ou pós-cirúrgica. A perita atestou que a autora adotou os cuidados pós-operatórios devidos”.
O que é hidrolipo
A hidrolipo, também chamada de lipoaspiração tumescente, é o nome dado a uma lipoaspiração realizada com anestesia raquidiana, que torna insensível à dor apenas uma parte do corpo. O paciente, se não for sedado, mantém a consciência e fica acordado durante todo o procedimento.
A cirurgia leva o prefixo "hidro" no nome porque o médico injeta uma solução de anestésico, soro fisiológico e adrenalina com o intuito de diminuir os vasos capilares e reduzir a perda de sangue.
"Conceituou-se que a hidrolipo seria essa lipoaspiração, injetando anestésico, soro fisiológico e adrenalina feita com anestesia, no consultório médico e com o paciente acordado", explicou em 2021 o médico Wendell Uguetto, ao g1.
A hidrolipo é uma alternativa à lipoaspiração convencional para as pessoas que desejam remover áreas de gordura de pontos específicos do corpo.